
Campanha anti‑Tylenol e o alerta ao FDA
Em um evento no Palácio Branco, na segunda‑feira, 22 de setembro de 2025, Trump declarou que sua administração vai pressionar a Food and Drug Administration a enviar alertas a médicos sobre o uso de paracetamol durante a gestação. A afirmação foi feita ao lado do secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., conhecido por seu posicionamento crítico em relação às vacinas.
Segundo o presidente, o medicamento, vendido mundialmente sob a marca Tylenol, estaria “associado a um risco maior de autismo” e, por isso, deveria ser evitado por gestantes, exceto em situações estritamente necessárias. Não foram apresentados dados clínicos, estudos revisados por pares ou pareceres de instituições regulatórias que sustentem a alegação.
A reação da comunidade médica foi imediata. O presidente da American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), Dr. Steven Fleischman, classificou a mensagem como irresponsável e potencialmente perigosa para mulheres grávidas que precisam de alívio de febre ou dor.
- Paracetamol continua a ser considerado seguro quando usado conforme prescrição.
- O aumento dos diagnósticos de autismo nos EUA tem sido atribuído à expansão dos critérios diagnósticos, não a fatores ambientais recentes.
- Empresas farmacêuticas, como a Kenvue (fabricante do Tylenol), negaram veementemente qualquer vínculo com o transtorno.
Além das críticas nos Estados Unidos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu comunicado reforçando que não há evidência científica que relacione o paracetamol ao desenvolvimento do autismo. A entidade alerta ainda que mensagens de saúde não fundamentadas podem gerar confusão e prejudicar o acesso a tratamentos adequados.

Desinformação sobre vacinas e a retomada de teorias desacreditadas
O mesmo discurso incluiu uma retomada de argumentos que associam vacinas infantis ao autismo – teoria que já foi refutada por múltiplas pesquisas. Trump comparou as injeções pediátricas a “injeções de cavalo” e sugeriu que o calendário de vacinação deveria ser revisado.
Especialistas em doenças infecciosas, como o Dr. Jake Scott da Stanford Medicine, explicaram que as doses são calibradas especificamente para o organismo das crianças e que os protocolos são baseados em décadas de evidência científica. Alterações não embasadas podem abrir brechas para surtos de doenças evitáveis.
Robert F. Kennedy Jr., que tem desempenhado um papel central na campanha, afirma que o país vive uma “epidemia de autismo” e promete identificar a causa até setembro de 2025. Entretanto, a comunidade científica vê essa agenda como motivada por ideologia política, e não por investigação séria.
Vários nomes de destaque foram citados como vítimas de intervenções políticas. A ex‑diretora dos CDC, Susan Monarez, disse ao Senado que foi afastada por manter a integridade científica frente às tentativas de Kennedy de desmantelar comissões de vacinação e projetos de tecnologia mRNA.
O impacto imediato da campanha inclui:
- Desconfiança crescente entre pais sobre a segurança das vacinas.
- Pressão sobre profissionais de saúde para alterarem calendários de imunização sem respaldo técnico.
- Risco de aumento de casos de doenças evitáveis, como sarampo e coqueluche, devido à diminuição da cobertura vacinal.
Entidades internacionais, como a OMS, reiteraram que vacinas salvam vidas e que a manipulação de calendários sem evidência aumenta o risco de surtos, comprometendo a saúde coletiva.
Embora o número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) tenha crescido, principalmente por causa de melhorias nos métodos de identificação, a comunidade científica alerta que não há sinais de um surto real de autismo. O consenso aponta para uma combinação de fatores genéticos e ambientais, ainda em estudo, mas sem relação comprovada com o uso de paracetamol ou vacinação.
O debate permanece aceso nos corredores de poder, enquanto famílias esperam respostas baseadas em ciência. A pressão para que autoridades de saúde publiquem orientações sem respaldo pode criar precedentes perigosos, colocando em risco a credibilidade de instituições como o FDA e o CDC.
Para os profissionais de saúde, a recomendação permanece clara: seguir as diretrizes baseadas em evidências, orientar gestantes sobre o uso adequado de analgésicos e manter os calendários de vacinação conforme estabelecido pelas autoridades sanitárias internacionais.