
Vitória que alivia e irrita ao mesmo tempo. Alivia o Internacional, que quebrou a sequência ruim e voltou a vencer em casa. Irrita o Fortaleza, que saiu do Beira-Rio com a sensação de que dava para mais e, de quebra, com um lance polêmico checado pelo VAR que alimentou a bronca do elenco. No fim, 2 a 1 para os gaúchos em jogo tenso e com cara de final de turno pela 22ª rodada do Brasileirão.
O jogo no Beira-Rio: chances, gols e polêmicas
O Internacional começou acelerado, ocupando o campo de ataque e finalizando cedo. Helton Leite apareceu como antídoto do Fortaleza nas primeiras chegadas, com duas defesas que seguraram a pressão e esfriaram a arquibancada. Era um recado claro: o time gaúcho não queria carregar o drama para o segundo tempo.
O plano funcionou na metade inicial. Aos 23 minutos, Johan Carbonero foi derrubado na área e o pênalti foi marcado. Alan Patrick assumiu a bola e cobrou com frieza, abrindo o placar e dando ao Inter o controle que Roger Machado pedia. Com a vantagem, o time tentou baixar o ritmo e proteger a posse, mas o efeito foi o contrário.
Sete minutos depois, o Fortaleza reagiu com o melhor caminho que encontrou durante a noite: a bola pelos lados. Bruno Pacheco encaixou um ótimo cruzamento da esquerda e Lucca Prior, bem posicionado, testou no canto para empatar aos 30. O gol virou o humor do jogo. Os visitantes ganharam confiança, subiram a marcação e começaram a rodar mais a bola, chegando com perigo antes do intervalo.
O Inter precisou se reorganizar no vestiário e voltou mais direto. Logo aos 5 do segundo tempo, saiu o lance que decidiu a partida. Alexandro Bernabéi tabelou por dentro, Alan Patrick apareceu na área para finalizar e, no rebote, Vitinho completou para a rede. Gol de oportunismo e leitura de espaço, do jeito que o atacante pede quando o jogo aperta.
Com a vantagem restaurada, o Inter alternou momentos de bloco médio e contra-ataque, tentando aproveitar os espaços que o Fortaleza deixava ao se lançar. Os números ajudam a contar a história: 53% de posse para os donos da casa, 47% para o Fortaleza, e 5 finalizações no alvo do Inter contra 3 do adversário. Não foi uma avalanche, mas foi o bastante para manter o controle da narrativa até o apito final.
O capítulo mais quente ficou para o fim, quando Bareiro cabeceou firme e Rochet salvou sobre a linha. Os jogadores do Fortaleza cercaram o árbitro, pedindo gol. O VAR revisou o lance e manteve a decisão de campo: sem bola inteira cruzando a linha, sem gol. A polêmica esbarra em um ponto recorrente do futebol brasileiro: não há tecnologia de detecção de gol (goal-line technology) homologada no campeonato, o que torna a checagem dependente das câmeras do VAR e dos ângulos disponíveis. Em um lance de milímetros, a frustração cearense cresceu.
- 23': Alan Patrick, de pênalti, 1 a 0 Inter.
- 30': Lucca Prior, de cabeça, 1 a 1.
- 50': Vitinho, no rebote, 2 a 1 Inter.
- Final: VAR revisa possível gol de Bareiro; decisão mantém a defesa de Rochet.
Individualmente, Alan Patrick foi o personagem do jogo. Participou dos dois gols, primeiro assumindo a bola parada com segurança, depois iniciando a jogada do gol da vitória. Vitinho, por sua vez, cumpriu o papel de quem vive da área: se movimentou para receber, brigou com zagueiros e apareceu no lugar certo para decidir. Do outro lado, Helton Leite evitou que o Fortaleza desandasse cedo no placar.

Contexto, pressão e o que vem pela frente
Para o Inter, a vitória vale mais do que três pontos. O time chegou aos 27 pontos e subiu para o 10º lugar, respirando fora da confusão. Chega também depois de uma sequência incômoda: quatro jogos sem vencer, com duas partidas do campeonato e dois duelos pela Libertadores contra o Flamengo, que terminaram na eliminação. O ambiente cobrava resposta, e Roger Machado, pressionado, precisava desse resultado para manter margem de manobra.
O ajuste apareceu em detalhes: intensidade alta no início para abrir o placar, recuperação do controle após o empate com linhas mais compactas e, no segundo tempo, busca por transições em velocidade quando o Fortaleza abriu o campo. Não foi uma atuação brilhante, mas foi competitiva. E, neste momento da temporada, isso conta muito.
Do lado cearense, o cenário preocupa. O Fortaleza estacionou nos 15 pontos, em 19º, firme na zona de rebaixamento. A série recente é pesada: uma vitória nos últimos 18 jogos somando todas as competições. Em campo, a equipe oscilou entre um bloco mais baixo, para conter a pressão inicial, e uma proposta mais corajosa após o empate. Criou o suficiente para sonhar com o 2 a 2, especialmente nas bolas alçadas, mas esbarrou no detalhe – e no lance da linha do gol que não entrou.
Há mérito na resposta emocional do time após sair atrás, algo que faltou em outras rodadas. Bruno Pacheco foi válvula pela esquerda, e Bareiro, mesmo sem marcar, deu trabalho na área. Falta transformar volume em efetividade, principalmente quando a partida pede o passe final com calma. Com a tabela andando, o relógio virou adversário: o Fortaleza precisa somar pontos já para não depender de milagre no terço final do campeonato.
Em termos de estratégia, o Inter protegeu melhor a sua área no segundo tempo, com ajuda dos pontas voltando para fechar o corredor e da dupla de volantes encurtando o espaço à frente da zaga. Quando o Fortaleza tentou acelerar por dentro, encontrou uma segunda linha mais atenta. E, quando tentou pela lateral, sofreu com cruzamentos previsíveis. Ainda assim, o time de Porto Alegre cedeu chances em bolas paradas e sofreu em lances de segunda bola, um alerta para as próximas rodadas.
Para Roger Machado, fica a lição de que o time funciona melhor quando se impõe cedo e evita longas trocas no campo de defesa, que têm rendido sustos. Com Alan Patrick inspirado e Vitinho mais participativo, a produção ofensiva cresce. Se Carbonero mantiver o nível de agressividade nos duelos individuais, o Inter ganha mais uma arma para quebrar defesas fechadas.
Na tabela, o resultado recoloca o Inter na trilha de objetivos factíveis: consolidar o meio da classificação e mirar, no curto prazo, uma vaga na zona de competições continentais. Não é uma arrancada, é um passo. O próximo desafio é sustentar desempenho e pontuação, especialmente fora de casa, onde a equipe tem oscilado.
O Fortaleza sai de Porto Alegre carregando dois sentimentos: o de ter competido em grande parte do jogo e o de ter deixado escapar um ponto por detalhes. A comissão técnica terá que equilibrar o time entre a necessidade de ousar e a de não se expor demais, porque o custo do erro hoje é alto. Corrigir a bola aérea defensiva e dar mais clareza às jogadas de infiltração parece o caminho imediato.
O campeonato está na sua fase em que cada rodada muda muita coisa para quem briga embaixo. No Beira-Rio, o Inter fez o que precisava: venceu, recuperou confiança e ganhou algum fôlego. O Fortaleza, por sua vez, precisa transformar atuação em resultado. A matemática ainda permite reação; o campo, por enquanto, cobra mais precisão na hora decisiva.
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