A noite de 24 de novembro de 2025 ficou marcada na história da televisão internacional: pela primeira vez, a 53ª edição do Emmy Internacional reuniu 64 indicações em apenas 16 categorias, representando 26 países — um recorde absoluto desde sua criação em 1969. A cerimônia, realizada no New York Hilton Midtown em Nova York, não só celebrou a diversidade da produção global, mas também consagrou figuras que moldaram a indústria por décadas. Entre os homenageados, o nome que mais ecoou no auditório foi o de João Roberto Marinho, presidente do Grupo Globo, que recebeu o Prêmio International Emmy Directorate por liderar a emissora no centenário da família Marinho e nos 60 anos da TV Globo.
Um Brasil em destaque na tela mundial
Se a cerimônia foi um espelho da globalização da televisão, o Brasil foi seu reflexo mais brilhante. O país conquistou oito indicações — o maior número já registrado por uma nação latino-americana em uma única edição. Entre os indicados, a novela Mania de Você, da TV Globo, concorreu na categoria Telenovela, enquanto o documentário O Prazer é Meu, da produtora independente Lume, foi apontado como um dos mais ousados da temporada. O programa infantil Lupi & Baduki e o reality show Bora, O Pódio é Nosso representaram a inovação no conteúdo para jovens. Já o jornalismo investigativo teve sua voz ampliada: Fantástico: El Salvador: o lado sombrio da segurança e Repórter Record Investigação: Desaparecidos Forçados entraram na disputa por melhor programa de atualidades. O fato de duas redes rivais — Globo e RecordTV — estarem simultaneamente entre os finalistas mostra como a qualidade do conteúdo brasileiro supera a rivalidade comercial.
Homens e mulheres que mudaram a indústria
Além das categorias competitivas, o Emmy Internacional sempre reserva espaço para homenagens que vão além da produção. Neste ano, Dana Walden, copresidente da Disney Entertainment, recebeu o Prêmio International Emmy Founders por ter impulsionado a expansão global de conteúdo da Disney+, especialmente em mercados como a América Latina e a Ásia. Mas foi o reconhecimento a João Roberto Marinho que gerou o maior aplauso. Com 74 anos e à frente do Grupo Globo desde 1995, ele viu a emissora se tornar a maior produtora de conteúdo da língua portuguesa — e uma referência em formatos replicados em mais de 30 países. "A Globo não é só uma empresa de televisão. É um espaço onde a cultura brasileira se olha no espelho e se reconhece", disse um dos juízes da IATAS, sob anonimato.
Como funciona a escolha dos vencedores?
O processo é rigoroso e internacional. A Academia Internacional de Artes e Ciências Televisivas (IATAS), com sede no 12 East 49th Street, Nova York, conta com mais de 600 jurados de 40 países. As inscrições começam em março, e os trabalhos passam por três fases: seleção preliminar em junho, análise por comitês regionais e, por fim, a votação final por jurados de fora da região da produção. Isso evita vieses nacionais. Em 2025, por exemplo, a série australiana The Gloaming e o drama checo Život je krásný foram finalistas, mesmo sem grande circulação nos EUA. A própria IATAS, fundada em 1969, foi criada justamente para dar visibilidade ao que não é feito em Hollywood — e hoje, com 26 países indicados, cumpre esse papel com excelência.
Do passado ao presente: a evolução do Emmy Internacional
A primeira edição ocorreu em 1965, em Nova York, mas só em 1973 a cerimônia se tornou anual e fixou-se no Hilton. O Brasil já havia vencido antes: em 2021, Ninguém Tá Olhando levou o prêmio de melhor comédia, e Órfãos da Terra conquistou a categoria telenovela. Mas 2025 foi diferente. Não foi apenas o número de indicações — foi a profundidade. Documentários sobre desaparecimentos forçados, programas infantis com narrativas complexas, novelas que abordam identidade de gênero e classes sociais: tudo isso mostra que a televisão fora dos EUA não só acompanha, mas lidera a inovação. A vitória da série indiana Delhi Crime em 2019 foi um marco — e em 2025, a Índia voltou com duas indicações, reforçando que o poder da narrativa não tem fronteiras.
O que vem a seguir?
As inscrições para a 54ª edição já estão abertas, com prazo até março de 2026. A expectativa é que a China e a África do Sul aumentem sua presença — dois mercados que, embora com produção robusta, ainda têm pouca visibilidade nos Emmy. A IATAS anunciou também que, a partir de 2027, uma nova categoria será criada: Melhor Série de Realidade Global, em resposta ao crescimento de formatos como Bora, O Pódio é Nosso e o coreano Physical: 100. Enquanto isso, a TV Globo e a RecordTV já estão em negociações para coproduções internacionais, algo que pode ser o próximo passo natural após tantas indicações.
Por que isso importa para o brasileiro?
Quando um programa brasileiro é indicado ao Emmy, não é só a emissora que ganha. É o país inteiro. O reconhecimento internacional aumenta o valor das produções no mercado externo, atrai investimentos, e, mais importante, muda a percepção: o Brasil não é mais visto como um mercado secundário, mas como um criador de conteúdo de qualidade global. Isso influencia jovens roteiristas, cineastas e técnicos que antes desistiam da carreira por acharem que só se dava certo em Hollywood. Agora, sabem: o mundo está olhando — e aprovando.
Frequently Asked Questions
Quem ganhou o Emmy Internacional 2025 na categoria Telenovela?
A vencedora da categoria Telenovela foi a série turca Kara Sevda, que superou a brasileira Mania de Você e a mexicana La Heredera. Foi a terceira vitória da Turquia na categoria desde 2015, consolidando seu domínio no gênero. A produção brasileira, apesar da derrota, recebeu elogios da academia pela ousadia na abordagem de temas como machismo e corrupção política.
Por que João Roberto Marinho foi homenageado com o Prêmio Directorate?
O prêmio reconhece contribuições transformadoras ao longo da carreira. Marinho liderou a Globo durante a transição da TV analógica para o streaming, investiu em produção independente e criou a GloboPlay, que hoje tem mais de 15 milhões de assinantes na América Latina. Além disso, ele foi peça-chave na internacionalização de telenovelas, que hoje são exibidas em mais de 120 países.
Como o Brasil conseguiu tantas indicações em 2025?
O aumento se deve à combinação de três fatores: maior investimento em produção de qualidade pelas redes, crescimento de produtoras independentes e a abertura da IATAS para temas sociais mais ousados. Documentários como O Prazer é Meu e investigações como Desaparecidos Forçados refletem uma nova fase do jornalismo brasileiro, que não teme abordar temas tabu — e isso impressionou os jurados internacionais.
O Emmy Internacional é mais importante que o Emmy dos EUA?
Não é uma questão de importância, mas de foco. O Emmy americano celebra produções nacionais, enquanto o Internacional reconhece o que acontece fora dos EUA — e muitas vezes, com orçamentos menores e maior risco criativo. Produções como Delhi Crime e La Casa de Papel só ganharam visibilidade global após vencerem o Emmy Internacional. Para muitos criadores, é o prêmio mais valorizado.
Quais países estão em ascensão no Emmy Internacional?
Além do Brasil, a África do Sul e a Coreia do Sul estão em forte crescimento. A África do Sul teve duas indicações em 2025, incluindo o drama Umlilo, que retrata a crise de energia. Já a Coreia, com Physical: 100 e My Liberation Notes, domina as categorias de realidade e drama. A Índia, com seis indicações, é outra força crescente, especialmente em séries de suspense e histórias baseadas em fatos reais.
O que é a IATAS e como ela decide os vencedores?
A International Academy of Television Arts & Sciences é a entidade que organiza o Emmy Internacional desde 1969. Com sede em Nova York, ela conta com mais de 600 jurados profissionais de 40 países, todos com experiência em produção, direção ou distribuição de conteúdo. As produções são avaliadas em três etapas, com jurados de fora da região da obra para evitar viés. O vencedor é escolhido por votação secreta e final.
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